ricardorosas rosas on Sat, 22 Jul 2006 19:50:19 +0200 (CEST) |
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[nettime-br] Alguém ainda se lembra dos Flashmobs? |
Pois é, eles vieram e sumiram.
Agora que o "autor" do fenômeno se revelou, a Folha deu uma visada na coisa. Interessante rever o método para entender possibilidades de ação por vir, pois a estratégia do enxame ("swarm") ainda é mais que pertinente.
Segue a matéria da Folha:
*Lembra o 'flash mob'? Fui eu que inventei*
*Bill Wasik, 31, editor da "Harper's", tradicional revista de análise e ensaios, diz que bolou as aglomerações que varreram o planeta em 2003 como um "experimento social" e "metáfora do vazio da cultura moderninha"*
*RAFAEL CARIELLO* DA REPORTAGEM LOCAL
As aglomerações-relâmpago e sem propósito definido que nasceram em Nova York em 2003, independentemente de tudo o que possam ter pensado os que delas tomaram parte, não eram arte nem entretenimento, mas um modismo deliberadamente criado por Bill Wasik, 31, editor-sênior da sofisticada revista norte-americana "Harper's".
O objetivo de seu "experimento social", diz o jornalista que agora veio a público reivindicar sua invenção, era revelar a fugacidade do consumo cultural contemporâneo e servir como "metáfora do vazio da cultura "moderninha'".
Os encontros combinados pela internet, em que os participantes eram instados a se reunirem em local público (ou quase, como lojas de departamento) em -na sua versão norte-americana ao menos- horário ultra-específico (digamos, às 13h15) e a se dispersarem após um curto período predeterminado, chegaram a ser tratados como fenômeno cultural relevante.
Ganharam o mundo e explicações que os associavam "ao processo de desmaterialização da arte" ou os creditavam como "a principal moda cultural até agora neste século". Cresceram exponencialmente em número de participantes, eventos e menções na imprensa, para, antes mesmo do fim daquele ano, desaparecer do mapa tão subitamente quanto as aglomerações que formavam. Eram mais um modismo, que, diz o seu inventor, explicitava a lógica da produção e consumo cultural de nossos dias.
*Adesão a "flash mob" é a cara dos "modernos"*
*Internet permite que "hipsters" consumam e abandonem produtos instantaneamente
Editor da "Harper's" afirma que grande velocidade de propagação dos modismos torna produções culturais cada vez mais "digeríveis"*
DA REPORTAGEM LOCAL
Do alto do 11º andar de um edifício no sul da ilha de Manhattan, um dos responsáveis pelo conteúdo da mais antiga revista mensal dos Estados Unidos, ali editada -fundada em 1850, a "Harper's" publica a vanguarda do pensamento político, artístico e social em seu país e no mundo-, Bill Wasik teve uma idéia.
Nunca, ele veio a escrever depois, um grupo de apreciadores culturais, relativamente bem-educados, foi tão submetido às imposições coletivas quanto a atual geração de "hipsters" (em bom português, ou quase, os "modernos"). Se, como ele acreditava, o consumo de certa produção cultural por essas pessoas era menos determinado por características dos produtos do que pela necessidade de se sentir parte do grupo -que com a mesma voracidade elegia de modo unânime a banda ou o escritor da vez e depois os descartava quando o seu consumo já tinha se espraiado para fora dos limites do grupinho-, talvez fosse possível criar um modismo cultural cuja característica fosse justamente a de conjugar um total vazio de sentido ao pleno pertencimento coletivo.
Assim surgiram os "flash mobs", revelou Wasik em artigo publicado na própria "Harper's", em março. Na semana passada, em entrevista à Folha, detalhou e fez considerações sobre o seu "experimento".
O primeiro passo foi criar uma conta fictícia de e-mail e mandar para si mesmo uma mensagem, depois reenviada por ele para cerca de 60 conhecidos, com o convite a tomar parte "num projeto que cria uma aglomeração inexplicável de pessoas em Nova York por dez minutos ou menos".
A primeira tentativa falhou, ele disse, pois a informação "vazou" e os primeiros participantes a chegarem ao local determinado encontraram seis policiais a guardar a loja. A segunda, duas semanas depois, funcionou, com o aviso final de hora e local dado apenas dez minutos antes. Daí o projeto cresceu, na cidade e depois em todos os continentes, e seu "líder" em Nova York passou a ser conhecido, e entrevistado, apenas como "Bill".
Desde que reivindicou sua autoria, há quatro meses, Wasik não foi contestado, e sua identidade foi confirmada por blogueiros e amigos a quem ele havia revelado sua crítica à "situação cultural atual".
O que há de novo com os modernos, ele disse por email à Folha, é que nunca uma cultura supostamente "alternativa" foi, a cada momento, tão unânime -sempre mais do que a própria cultura "mainstream".
"O que há de novo nos "hipsters", em oposição a vanguardas de épocas anteriores, está em como a internet lhes permite convergir sobre novos produtos culturais quase instantaneamente. E depois -quase tão instantaneamente- perceberem que esses produtos arrumaram adeptos demais e os abandonarem", diz.
Também do lado dos produtos há que haver uma adaptação aos novos tempos, defende Wasik. Ele faz a lista das "melhores bandas de todos os tempos da última semana" -segundo ele, desde que teve a idéia até escrever o artigo, os Strokes, Franz Ferdinand, Interpol, Bloc Party e Clap Your Hands Say Yeah- para diferenciá-las dos grupos de apenas uma geração atrás.
"Pixies, Joy Division e Fugazi, por exemplo, cada uma delas inventou um som que era novo o suficiente para "alienar" parte de seus consumidores potenciais -ao menos no início. Eles dividiam as pessoas. Os Strokes, por outro lado, ou o Clap Your Hands Say Yeah, são tão facilmente digeríveis que todos gostam deles imediatamente. A única razão para deixar de gostar é justamente o fato de serem tão digeríveis -e essa é razão pela qual, no final, não perduram", afirma.
Mesma razão, demonstrado o experimento-teorema, que fez os "flash mobs" serem vorazmente consumidos para em seguida serem abandonados. Ou quase.
*"Aglomerações-relâmpago podem voltar", diz o responsável por trazê-las ao Brasil *
DA REPORTAGEM LOCAL
O artista plástico Eli Golande, 33, integrante do grupo Arac (Arte Contemporânea), responsável por convocar as versões brasileiras das aglomerações-relâmpago, diz não concordar com Bill Wasik sobre ser "inevitável que os "flash mobs" acabassem". "Era muito fácil que eles continuassem", defende. E completa: "Acho que podem retornar". Alguma razão ele tem. Mais do que farsa, uma espécie de "retorno" estava marcado para hoje, às 11h39 e 13 segundos, pelo meridiano de Greenwich. Correu na internet uma convocação para o "World Jump Day", que pedia que milhões de participantes, nessa mesma hora, dessem um pulo para "ajudar a colocar o planeta Terra numa nova órbita". Outra tentativa recente de reavivar o fenômeno se deu em junho, na Rússia, quando manifestantes organizaram um "flash mob" para protestar contra o controle que o presidente Vladimir Putin exerceria sobre a mídia local.
De toda forma, o ciclo de ímpeto inicial e posterior abandono ocorreu por toda parte em 2003, e também no Brasil. A tendência foi de esvaziamento após uma primeira mobilização convocada com sucesso para a av. Paulista em 13 de agosto, quando os participantes tiraram os seus sapatos e bateram as solas contra o asfalto durante o intervalo de um abrir-e-fechar do sinal.
"Já tínhamos estabelecido que seriam quatro ações experimentais, que não se repetiriam na forma", afirma Golande. "Nossa proposta era realmente fazer essas quatro e depois acabar." O artista plástico brasileiro diz concordar com o argumento desenvolvido por Wasik para explicar seu experimento e o rápido consumo cultural atual. Afirma ainda que seu interesse era justamente fazer, ele também, "uma análise" do comportamento dos internautas e uma pesquisa sobre as fronteiras entre o que é e o que não é arte.
"Como tendência, também fui surpreendido. Pelo vazio da coisa. Pela busca do coletivo de forma efêmera", declara. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/inde20072006.htm _______________________________________________ Nettime-br mailing list Nettime-br@nettime.org http://www.nettime.org/cgi-bin/mailman/listinfo/nettime-br