Almandrade on Mon, 30 Sep 2002 07:50:02 +0200 (CEST)


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[nettime-lat] o fim da arte




 O FIM DA ARTE   (como meio de conhecimento)

Não temos a capacidade de destilar em palavras as experiências visuais que
fazem o belo repousar naquilo que é apreendido pelo olhar. Uma obra de arte
é tudo que ela contém: forma, textura, cor, linhas, conceitos, relações,
etc. É aquilo que se vê, e o que se diz não corresponde exatamente ao que se
vê. Não representa nada como imagem de outra coisa. E para ler um trabalho
de arte é necessário se partir de um modelo (referências, informações...).
Existem códigos a priori (aqueles utilizados pelo artista) e códigos a
posteriori (aqueles utilizados pelo espectador).

A virtude da arte é afirmar um conhecimento, propondo instrumentos que
seduzem a inteligência. A invenção de uma linguagem é o resultado de um
exercício paciente de contemplar outras linguagens. Como todo discurso é
resultado de outros discursos. Exige-se um método. A arte é o que está além
dos limites de tudo o que se considera cultura; não pode se restringir a um
exótico experimento ou aparência da superfície de um trabalho, que fica para
trás, como uma coisa vazia, no primeiro confronto com o olhar que pensa.

A arte, entendida, como meio de conhecimento, hoje em dia, vem cedendo lugar
a uma experiência ligada ao lazer e a diversão, que envolve outros
profissionais como responsáveis pela sua legitimação: o curador, o
empresário patrocinador e organizador de eventos, marchands, profissionais
de publicidade, administradores culturais e captadores de recursos. Com as
leis de incentivo a cultura e a presença marcante da iniciativa privada,
paradoxalmente, levou a arte a um limite, o fim da obra, do trabalho ligado
a um saber. E o artista, nem artesão e nem intelectual, sem dominar qualquer
conhecimento, está cada vez mais sujeito ao poder do outro. As grandes
mostras são grandes empreendimentos para atender à indústria do
entretenimento, (mais empresarial e menos cultural), que movimentam uma
quantidade significativa de recursos e envolve um número assustador de
atravessadores.

As contradições modernidade / tradição, contemporâneo / moderno, neste
início de século, cede lugar a uma outra contradição: artistas que pertencem
ao metier  e artistas estranhos ao metier, inventados por empresários da
cultura, cujos trabalhos se prestam para ilustrar uma tese ou teoria
imaginária de um suposto intelectual da arte e garantir o retorno do que foi
investido pelo patrocinador e pelo comerciante de arte. Uma mercadoria fácil
de investir, sem risco de perda, basta uma boa campanha publicitária. O
artista pode ser substituído por um ou por outro, a obra é o menos
importante. Aliás, é o que a indústria do marketing tem feito com as mostras
dos grandes mestres como: Rodin, Manet, etc., pouco importa as obras desses
artistas e sim o nome e o patrocinador. A publicidade leva
consumidores/espectadores como quem leva a um shopping center. A quantidade
de público garante o sucesso. O público é como o turista apressado, carente
de lazer cultural que visita os centros históricos com o mesmo apetite de
quem entra numa lanchonete para uma alimentação rápida.

 Na "sociedade do espetáculo", regida pela ética do mercado, o artista sem
curador, sem marchand, sem patrocinador, é simplesmente ignorado pelas
instituições culturais, raramente é recebido pelo burocrata que dirige a
instituição. Seus projetos são deixados de lado. Também pudera, essas
instituições, sem recursos próprios, tem suas programações determinadas
pelos patrocinadores. Numa sociedade dominada pelo império do marketing, a
realidade e a verdade são mensagens veiculadas pela publicidade que disputa
um público cada vez maior e menos exigente. A vida é vivida na especulação
da mídia, na pressa da informação. E neste meio, a arte é uma diversão que
se realiza em torno de um escândalo convencional, deixando de lado a
possibilidade do pensamento.

O fantasma do "novo", que norteou a modernidade foi deslocado para o artista
que está começando, pelo menos novo em idade, o artista/atleta, a caça de
novos talentos e de experiências de outros campos sociais. Totens
religiosos, a casa do louco, a rebeldia do adolescente... Tudo é arte, sem
exigir de quem faz o conhecimento necessário. Todo curador quer revelar um
jovem talento, como se a arte dispensasse a experiência. Um "novo", sinônimo
de jovem ou de uma outra coisa que desviada para o meio de arte, funciona
como uma coisa "nova". Um novo sempre igual, a arte é que não interessa.
Praticamente trinta anos depois do aparecimento da chamada arte
contemporânea no Brasil, recalcada nos anos 70 pelas próprias instituições
culturais, um outro contemporâneo surgido nos anos 90 passou a fazer parte
cotidiano dos salões, bienais, do mercado de arte, das grandes mostras
oficiais e de iniciativa privada. Uma contemporaneidade sintomática.

Estamos vivendo um momento em que qualquer experiência cultural: religiosa,
sociológica, psicológica, etc. é incorporada ao campo da arte pelo
reconhecimento de um outro profissional que detém algum poder sobre a
cultura, (tudo que não se sabe direito o que é, é arte contemporânea). Como
tudo de "novo" na arte já foi feito, o inconsciente moderno presente na arte
contemporânea implora um "novo" e nesta busca insaciável do "novo",
experiências de outros campos culturais são inseridos no meio de arte como
uma novidade. Deixando a arte de ser um saber específico para ser um
divertimento ou um acessório cultural. Neste contexto, o regional, o exótico
produzido fora dos grandes centros entra na história da arte contemporânea.
Nos anos 80, foi o retorno da pintura, o reencontro do artista com a emoção
e o prazer de pintar. Um prazer e uma emoção solicitados pelo mercado em
reação a um suposto hermetismo das linguagens conceituais que marcaram a
década de 70. Acabou fazendo da arte contemporânea, um fazer subjetivo, um
acessório psicológico ou sociológico. Troca-se de suporte nos anos 90 com o
predomínio da tridimensionalidade: escultura, objeto, instalação,
performance, etc., mas a arte não retomou a razão.

Na barbárie da informação e da globalização, estamos assistindo ao
descrédito das instituições culturais e da dissolução dos critérios de
reconhecimento de um trabalho de arte. Tudo é tão apressado que acaba no dia
seguinte, os artistas vão sendo substituídos com o passar da moda, ficam os
empresários culturais e sua equipe. Uma corrida exacerbada atrás de uma
"novidade", que não há tempo para se construir uma linguagem. O chamado
"novo" é a experimentação descartável que não chega a construir uma
linguagem elaborada, mesmo assim, é festejado por uma crítica que tem como
critério de julgamento interesses pessoais e institucionais. A arte pode ser
qualquer coisa, mas não são todos os fenômenos ditos culturais,
principalmente os que são gerados à sombra de uma ausência de conhecimento.

Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)
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The END Of the ART (as half of knowledge)
Almandrade
/ we do not have the capacity to distill in words the visual experiences
that make the beauty to rest in that it is apprehended by the look. A work
of art is everything that it contains: form, texture, color, lines,
concepts, relations, etc. Are what it is seen, and what it says it does not
correspond accurately to the one that if it sees. It does not represent
nothing as image of another thing. E to read an art work is necessary to
break itself of a model (references, information...). Codes a priori (those
used by the artist) and codes exist a posteriori (those used by the
spectator).

/ / the virtue of the art is to affirm a knowledge, considering instruments
that seduce intelligence. The invention of a language is the result of a
patient exercise to contemplate other languages. As all speech he is
resulted of other speeches. A method is demanded. The art is what it is
beyond the limits of everything what culture is considered; an exotic
experiment or appearance of the surface of a work cannot be restricted to,
that is stops backwards, as an empty thing, in the first confrontation with
the look that thinks.
/ the art, understood, as half of knowledge, nowadays, comes yielding place
to a on experience to the leisure and the diversion, that involves other
professionals as responsible for its legitimation: the custodian, the
entrepreneur sponsor and organizador of events, marchands, cultural
professionals of advertising, administrators and captadores of resources.
With the incentive laws the culture and the marcante presence of the private
initiative, paradoxicalally, took the art to a limit, the end of the
workmanship, the on work to one to know. E the artist, nor intellectual
craftsman and nor, without dominating any knowledge, is each more subject
time to the power of the other. The great samples are great enterprises to
take care of to the industry of the entertainment, (more enterprise and less
cultural), that they put into motion an amount significant of resources and
involves a frightful number of profiteers.
/ the contradictions modernity/tradition, modern contemporary /, in this
beginning of century, yields place to one another contradiction: strange
artists who belong when metier and artists when metier, invented for
entrepreneurs of the culture, whose works if give to illustrate a thesis or
imaginary theory of an intellectual presumption of the art and to guarantee
the return of that it was invested by the sponsor and the trader of art. An
easy merchandise to invest, without risk of danger of loss, is enough to a
good advertising campaign. The artist can be substituted by one or for
another one, the workmanship is less important. By the way, it is what the
industry of the marketing has made with the samples of the great masters as:
Rodin, Monet, etc., little import the workmanships of these artists and yes
the name and the sponsor. The advertising takes consumidores/espectadores as
who leads to one shopping to center. The amount of public guarantees the
success. The public is as the hasty, devoid tourist of cultural leisure that
visits the historical centers with the same appetite of who enters in a
snack bar for a fast feeding

/ In " the society of the spectacle ", conducted for the ethics of the
market, the artist without custodian, marchand, without sponsor, simply he
is ignored by the cultural institutions, rare is received by the bureaucrat
who dirige the institution. Its projects are left of side. Also it can,
these institutions, without proper resources, has its programmings
determined for the sponsors. In a society dominated for the empire of the
marketing, the reality and the truth are messages propagated for the
advertising that disputes a public each bigger and less demanding time. The
life is lived in the speculation of the media, in the haste of the
information. E in this way, the art is a diversion that if carries through
around a conventional scandal, leaving of side the possibility of the
thought.
/ the ghost of " the new ", that it guided modernity was dislocated for the
artist who are starting, at least new in age, artista/atleta, the hunting of
new talentos and experiences of other social fields. Totens religious, the
house of the insane person, the revolt of the adolescent... Everything is
art, without demanding of who makes the necessary knowledge. All custodian
wants to disclose a young talent, as if the art excused the experience. "
New ", synonymous of young or one a other thing that deviated for the way of
art, functions as a new " thing ". New a always equal, art is that it does
not interest. Practically thirty years after the appearance of the call art
contemporary in Brazil, stressed in years 70 for the proper cultural
institutions, one another contemporary appeared in years 90 started to be
daily part of the halls, biennial, of the market of art, the great official
samples and private initiative. A symptomatic contemporaneidade.

/ we are living a moment where any cultural experience: religious,
sociological, psychological, etc. is incorporated the field of the art for
the recognition of one another professional whom some power withholds on the
culture, (everything that does not know right what it is, is art
contemporary). As everything of " new " in the art already it was fact, the
unconscious present modern in the art contemporary begs " a new " and in
this insaciável search of " the new ", experiences of other cultural fields
are inserted in the way of art as a newness. Leaving the art of being one to
know specific to be an amusement or a cultural accessory. In this context,
the regional one, the exotic one produced outside of the great centers
enters in the history of the art contemporary. In years 80, it was the
return of the painting, reencontro of the artist with the emotion and the
pleasure to paint. A requested pleasure and an emotion for the market in
reaction to a presumption hermetismo of the conceptual languages that had
marked the decade of 70. It finished making of the art contemporary, one to
make subjective, a psychological or sociological accessory. One changes of
support in years 90 with the predominance of the tridimensionalidade:
sculpture, object, installation, performance, etc., but the art did not
retake the reason.

/ In the barbarity of the information and the globalization, we are
attending the discredit of the cultural institutions and the dissolution of
the criteria of recognition of an art work. Everything is so hasty that it
finishes in the following day, the artists goes being substituted with
passing of the fashion, is the cultural entrepreneurs and its team. A race
exacerbada behind " a newness ", that does not have time to construct a
language. The new " call " is the dismissable experimentation that does not
arrive to construct an elaborated language, exactly thus, is festejado by a
critical one that it has as judgment criterion personal and institucional
interests. The art can be any thing, but the said phenomena are not all
cultural, mainly the ones that are generated to the shade of a knowledge
absence.

Almandrade - (plastic artist, poet and architect.)





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